segunda-feira, 18 de maio de 2015

Capítulo 14 - Reflexões e Fragmentos do texto: A Autonomia de professores, de José Coutreras. Capítulo 5: O professor como profissional reflexivo.


                A ideia do profissional reflexivo, segundo Schon é o profissional que enfrenta situações que não se resolvem por meio de repertórios técnicos. Atividades que se caracterizam por atuar sobre situações incertas, instáveis, singulares e nas quais existe um conflito de valor. Com isso há a distinção entre “conhecimento na ação” e “reflexão na ação”.  O conhecimento na ação se baseia naquele conhecimento onde não há uma reflexão prévia, a ação vai se construindo de forma sincronizada com o conhecimento ou descobertas que vão sendo vivenciadas na execução de alguma atividade.
                A reflexão na ação está voltada para quando fugimos do habitual, pensando na forma que as atividades são realizadas e focando no resultado esperado. Uma característica de reflexão é a repetição.  Um profissional é um especialista que enfrenta repetidamente  determinados tipos de situação e consegue desenvolver um repertório de técnicas, imagens e resultados que servem de bases para decisões. Facilitando o trabalho de profissionais mais experientes, por exemplo.  Entretanto, deve-se estar sempre atento ao surgimento de diferenças e variações no cenário, para assim que necessário, mudar suas perspectivas, entendendo problemas de novas maneiras.  Assim, os professores podem se encontrar em processos imediatos de reflexão na ação no caso de terem de responder a uma ação imprevista no ritmo da classe. Entretanto, esses processos podem ser demorados. A experiência dos professores é acompanhado na prática. Nas aulas de Química na qual frequento, a professora é experiente e já possui um repertório de ações e situações vividas na escolha, obtidos através dos anos de ensino. Nas aulas, inclusive, os conteúdos a serem trabalhados não são baseados em livros didáticos, a professora usa os conhecimentos dela para ensinar e já possui ferramentas para driblar o inesperado, que pode surgir por parte dos alunos.
                O processo de reflexão na ação, segundo Schon, transforma o profissional em um “pesquisador no contexto da prática”.  Nesse contexto, ele não precisa de técnicas e teorias preestabelecidas, mas constrói uma nova maneira de observar o problema que lhe permita atender suas peculiaridades e decidir o que vale a pena salvar ou colocar um ponto final. Em ocasiões como essas, os práticos demonstram sua “arte profissional”, ao serem capazes, de forma aparentemente simples, de manipular as quantidades de informação, selecionando os traços relevantes e extraindo consequências a partir do conhecimento profissional de casos anteriores, reconhecendo a singularidade da nova situação em comparação com outras.
                A prática constitui-se, desse modo, um processo que se abre não só para resolução de problemas de acordo com determinados fins, mas à reflexão sobre quais devem ser os fins, qual o seu significado concreto em situações complexas e conflituosas, “que problemas valem a pena serem resolvidos e que papel desempenhar neles”. E isso pode levar à análise das normas e critérios implícitos de avaliação empregados ou à forma com que se entende e constrói o papel profissional dentro do contexto e social mais amplo do que atua.
                A relação é também transacional no sentido de que os fenômenos que o profissional quer entender são em parte produto de sua intervenção; ele se encontra na situação que quer compreender, pois entender a situação é entender a forma com que se relaciona com ela, como define seu papel e que consequências têm na prática. Ao contrário do modelo de racionalidade técnica, no qual se entendia a ação profissional como externa a uma realidade alheia, o profissional reflexivo entende que ele faz parte da situação, por meio do qual deve-se entendê-la como configurada pelas transações realizadas com suas contribuições.
                Favorecer, por exemplo, a compreensão dos alunos ou estimular seu pensamento crítico são pretensões educativas que se abrem ao inesperado porque se referem a dimensões criativas das pessoas. Definem um potencial a ser desenvolvidos nos alunos que pode se abrir a possibilidades imprevistas, tanto no que se refere à experiência educativa a que pode dar lugar, como pela aprendizagem que pode ser realizada. Se as experiências pedagógicas se guiam de forma genuína por valores dessa natureza (mais do que exclusivamente pela conquista de habilidades ou pelo domínio da informação), então devem caracterizar-se pelo que as move, mais do que pelo que conseguem como produtos temporais da aprendizagem.
               

                

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